
A fitar o impossível
Sonhando um dia chegar.
Mas, eras tão criança, Zé, tão pequenino,,,
Eras tão criança prá sonhar...
Sonhar... sonhar...Zé! acorda!
Zé filhinho, vem deitar!...
Sair...sair prá quê?
Deita
r, dormir...que coisa incômoda,
Zé preferia morrer a sair
Zé tinha, tinha que ver...
O dia passava, e, à noite
Como uma sombra na sombra
Lá ficava Zé, sempre impassível
A fitar a imensidão do céu
O sussurrar do vento
A sentir o balouçar das flores
E a dizer em sofrimento:
"Papá, Ppá...vem prá cá!"
Ai! pobre Zé, pobre criança humilde,
Pobre vida miserável vida
Pobre escarro de um ébrio qualquer...
Aquela alí, tão triste a fitar
no horizonte
Um homem magro e um madeiro
E atrás dele um mundo inteiro
A gritar: "Matemo-no!",
E a mãe do Zé que nada via
Gritava da cozinha aflita:
"Ze, filhinho, vem jantar...
Cê precisa de comer...
Zé, Zé,...tu vai morrer...
Não vê que ele não vem?...
Zé, filhinho, vem comer!"
Mas Zé nada mais escutava
Nada mais ouvia, nada mais falava.
Zé parou de vez, e dos lábios
Apenas um sorriso de adeus,
Deixou prá nós.
Dos olhos do Zé o cristalino brilho
Revia cenas de morrer:
Zé viu o pai sendo crucificado
Zé viu o olhar do pai, tão magoado
Zé viu seu pai chorar sem ninguêm vê.
Zé viu, Zé viu, sim,,,
E Zé, tão pequenino então, morreu de medo
E se escondeu da vida prá fugir dos homens:
Os mesmos homens que mataram o pai.
Hoje é a mãe do Zé que anda assim, aflita
Buscando o pai aparecer
E trazer seu filho que a deixou sozinha
Prá brincar de se esconder.
(Dantas) - Parabéns... muito bonito!!!
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